Vencedores

Os Vencedores

Produção Primária

A iniciativa que reconhece anualmente o que de melhor se faz no setor primário português regressou em 2022. Conheça os produtos e os produtores vencedores do Prémio Intermarché Produção Nacional deste ano na categoria de Produção Primária.

Premiado: Salivitae
Produto: Salicórnia

Salicórnia, o “espargo do mar” ou “sal verde” que substitui o sal de cozinha
Dois profissionais das áreas de gestão de espaços rurais e de gestão costeira, nomeadamente de salinas, juntaram-se, em 2017, para criarem um projeto de produção de Salicórnia ramosíssima, uma planta também conhecida por “sal verde”. O objetivo era a exportação deste produto em fresco, sobretudo para a Holanda, Bélgica e França, mercados onde estava sobejamente divulgado, ao contrário do português. O que não deixa de ser curioso, dado que a salicórnia já era usada, pela sua riqueza em vitamina C, no tratamento do escorbuto nas caravelas que cruzavam os mares por altura dos Descobrimentos, embora só as pessoas que trabalhavam em salinas ou próximo delas é que conheciam as suas propriedades culinárias. É que a planta, além de nutritiva, apresenta um sabor salgado, podendo ser utilizada na cozinha como substituto do vulgar sal marinho, mas com menos teor de sódio, o que a torna mais saudável.
Três anos mais tarde, o tempo necessário para se certificar como produção biológica, a Salivitae deu então início à comercialização da sua salicórnia e agora os dois sócios estão a estudar a melhor estratégia para entrarem no mercado nacional, até porque, devido às condições climatéricas de seca que o país atravessa, este pode ser um tipo de agricultura com futuro. A planta pode ser cultivada em terrenos outrora férteis para as culturas “tradicionais” e hoje abandonados por escassez de água, já que a rega pode ser realizada com água salobra ou salgada. Além disso, explica Hugo Mariano, um dos mentores do projeto instalado em Portimão, “este cultivo tem desperdício alimentar zero. O caule comprido da planta, que parece um espargo, divide-se em três partes, cortamos as pontas para venda em fresco, o restante até à raiz usamos para fazer ‘sal verde’ desidratado, que é um dos nossos novos produtos derivados, e as raízes são comercializadas para ração animal”. Um contributo para a proteção do planeta, que se junta ao facto de a Salivitae produzir toda a energia que gasta na sua atividade, através de painéis fotovoltaicos que alimentam a exploração de meio hectare.


Premiado: Tomar Natural
Produto: Spirulina Artesanal

A spirulina cultivada de forma artesanal que é benéfica para a saúde
Fornece energia, reduzindo o cansaço, fortalece o sistema imunitário e o sistema cardiovascular e tem propriedades anti-inflamatórias, entre outras. Falamos da spirulina (Arthrospira Platensis), uma cianobactéria em forma de espiral que vive em meio aquático. A sua riqueza nutricional e consequentes benefícios há muito são conhecidos e já nos anos 70 as Nações Unidas a consideravam um “alimento do futuro”. Influenciados pelas suas características, Ana Pereira e o marido resolveram, numa antiga quinta agroflorestal em Tomar, dedicar-se à sua produção de forma artesanal. Corria o ano de 2018, mas o sonho de instalar um projeto agrícola nuns terrenos da família surgiu alguns anos antes quando, após mais de uma década a viverem no estrangeiro, onde se conheceram, resolveram regressar. “Pensámos inicialmente em vários produtos, como cogumelos, frutos vermelhos ou espargos, mas não sentimos grande abertura do mercado”, conta a produtora. Entretanto, tiveram conhecimento pela Comunicação Social de uma produção de spirulina no Algarve e quiseram ver de perto o produto dela resultante. Foi aí que aprenderam tudo o que sabem sobre esta “microalga”, apoio que os motivou a prosseguir caminho. Entretanto, em 2014, “começámos a comer spirulina, demo-nos muito bem e quisemos saber mais, o que nos levou a visitar outros produtores na Europa e onde nos deparámos com uma grande solidariedade. Percebemos que era um projeto não apenas com visão de negócio em si, mas que também tinha valor social e ético associado a ele”, acrescenta. Esta segurança permitiu ao casal criar, então, a Tomar Natural, que já vai na sua quarta época de produção. Cultivada em tanques, numa estufa, a spirulina da marca é filtrada e prensada antes da desidratação, que é feita a baixas temperaturas, sendo comercializada em formato de “palhinha” ou em pó. Agora, o casal quer continuar a divulgar o seu produto, para mostrar todos os seus benefícios.

Produtos transformados

Conheça os produtos e os produtores vencedores da categoria Ideias com Potencial do Prémio Intermarché Produção Nacional, a iniciativa que ajuda, há oito edições, a revitalizar uma área tão importante para a economia como é o setor primário português.

Premiado: Servipal
Produto: Cozido d’Aldeia

O cozido à portuguesa que, num instante, está na mesa.
Susana Santos trabalhou 25 anos como administrativa, sempre a acalentar o sonho de ter um negócio seu. Há cerca de nove anos, achou que devia avançar. Envolveu o marido, compraram uma propriedade e decidiram-se por uma unidade de fazer enchidos, até porque havia ligações familiares ao negócio da carne. Montaram uma fábrica, criaram a marca Quintinha d’Aldeia e arriscaram tudo. “Começámos do zero, optando pelos enchidos tradicionais, mas a dada altura senti necessidade de inovar, de fazer diferente e de fazer chegar ao consumidor produtos que não existissem no mercado”, conta.
Como estão localizados na zona ribatejana de Pernes, a primeira novidade foi um chouriço de touro bravo, comercializado sob a marca Fumeiros da Lezíria, entretanto já medalhado em eventos de gastronomia. A inovação, acrescenta, “trouxe reconhecimento, notoriedade e credibilidade aos nossos produtos”. Mas as ideias são, tal e qual as palavras, como as cerejas: vão umas atrás das outras. Num almoço de família de cozido à portuguesa nasce, de uma brincadeira, mais um enchido: o Cozido d’Aldeia. Logo começaram a fazer experiências até chegarem ao produto que têm hoje, uma reinterpretação do cozido à portuguesa à moda da Quintinha d’Aldeia: “Tem as carnes e os enchidos metidos numa tripa natural de vaca, tudo feito manualmente, e tem o gostinho do nosso cozido. Basta aquecer para estar pronto a servir, devendo ser cortado grosseiramente. Junta-se couves, batatas e cenouras cozidas e, num instante, está na mesa”.
O Cozido d’Aldeia contém chouriço de carne e de sangue, morcela, farinheira e várias carnes, todas da região do Ribatejo. “Ter produtos inovadores deixa-me muito feliz. Hoje em dia, quem não procurar inovar e fazer diferente começa a ficar para trás”, considera a produtora que está a concorrer ao Prémio Intermarché incentivada pelos dois filhos, que já seguem as pisadas dos pais. A Luana está a estudar Gestão e ajuda a mãe na divulgação dos produtos, enquanto o Leonardo apoia o pai na produção.


Premiado: Europastry
Produto: Bretzel de maçã de Alcobaça

O bretzel de maçã de Alcobaça que homenageia a portugalidade
A Europastry é um grupo familiar com sede em Barcelona (Espanha), fundado em 1987 por um empreendedor que soube detetar uma oportunidade de negócio e investiu na tecnologia de frio para satisfazer as necessidades dos consumidores e dos profissionais de padaria e pastelaria. Chegou a Portugal há 25 anos, mas nos primeiros 10 não tinha produção própria nacional, comercializando apenas os produtos que importava do país de origem. Quando abriu a fábrica do Carregado, em Alenquer, tudo mudou. Duas linhas de produção garantiam um sortido de pastelaria doce e salgada e desde aí abastecem quer o mercado nacional como o internacional através de vários canais de vendas. Também começaram a desenvolver produtos com receitas originais. Um deles foi o bretzel, um laço de massa dinamarquesa com cobertura, primeiro com dois sabores, chocolate e amêndoa, que, entretanto, tem vindo a evoluir. “Tem sido um best seller, em vendas nacionais e além-fronteiras”, revela Luís Costa, diretor-geral. Em janeiro, abril e setembro a empresa faz campanhas de inovação internas para lançar novidades no mercado e foi numa destas campanhas, já este ano, que surgiu a ideia de criar um bretzel cujo conceito reforçasse a portugalidade e que trouxesse consigo o sabor da fruta portuguesa. Foi assim que nasceu o de maçã de Alcobaça.
A Europastry recorre, sobretudo, a matérias-primas de qualidade e locais ou nacionais, por questões de sustentabilidade. Por outro lado, não usa conservantes artificiais, sendo o frio, através da congelação, o garante da conservação saudável dos seus produtos. Há, também, uma preocupação social forte, acrescenta o responsável: “Aliamos a tecnologia e a tradição com uma componente de mão de obra grande, fator de empregabilidade local”.
Com o Prémio Intermarché Produção Nacional, a marca espera chegar a um grupo ainda mais abrangente de consumidores.

Ideias com Potencial

Conheça os produtos e os produtores candidatos à categoria de Ideias com Potencial do Prémio Intermarché Produção Nacional, a iniciativa que ajuda, há oito edições, a revitalizar uma área tão importante para a economia como é o setor primário português

Premiado: Planalto Dourado
Produto: Ruibarbo em doce extra

O doce de ruibarbo que quer conquistar o paladar dos portugueses
A Planalto Dourado, fundada em 2005, renasce de uma antiga e tradicional casa vitícola beirã de Freixedas (Pinhel), cuja produção foi reconvertida em modo biológico. Na família de Conceição Matos, a sócio-gerente, a quinta, de 45 hectares, sempre se pautou por uma grande diversidade de culturas, umas de regadio, outras de sequeiro, dos frutos aos produtos hortícolas e às plantas aromáticas e medicinais. Hoje, com tudo o que produz, oferece uma vasta gama de óleos essenciais e de doces, onde se inclui o produto a concurso neste Prémio Intermarché Produção Nacional: um doce de ruibarbo extra. Pouco divulgado entre nós — o ruibarbo é uma hortícola rica em fibras consumida sobretudo nos países mais a norte do globo, quer da Europa como da América — esta produtora está empenhada a dá-lo a conhecer aos portugueses. “A maioria das nossas culturas são as tradicionais que se destacam no nosso país e quando incluímos o ruibarbo a intenção foi inovar, fazer diferente, além de, pelo seu sabor acidulado, dar um caráter menos adocicado aos doces que produzimos e daí o misturarmos com frutos”, conta. Recentemente, a marca quis arriscar e fazer um doce de ruibarbo puro, ou seja, sem misturas, que está a ser comercializado sobretudo em lojas biológicas, mas a ideia é escalar, já que a produção assim o permite. “É uma cultura que se expande facilmente de um ano para o outro e acredito que quem o experimenta fica fã”, explica a gerente.
As aplicações culinárias deste vegetal, que deve ser consumido cozinhado devido à sua acidez, são várias, sobretudo em sobremesas e doces, mas já há cozinheiros que o integram em pratos principais, pelo que o seu potencial é grande. Basta descobri-lo.


Premiado: Quinta dos Fumeiros
Produto: Cachaço fumado com queijo de cabra

O cachaço fumado com queijo de cabra que mistura duas tradições minhotas
A Quinta dos Fumeiros é uma empresa tradicional que aposta na inovação e em produtos diferenciadores. Nasceu há 23 anos, em Poiares (Ponte de Lima), pela mão de três irmãs para dar seguimento a uma atividade familiar já antiga: a criação de suínos e a produção de enchidos. Entretanto, duas das irmãs acabam por seguir caminhos diferentes e Deolinda Campelo, apaixonada pelo negócio transmitido pela mãe, fica sozinha à frente do projeto de transformação de enchidos tradicionais feitos de forma artesanal. Mantendo o foco nos produtos de excelência, foi crescendo e diversificando a oferta ao encontro das exigências do mercado e dos novos hábitos de consumo. Surgiram assim os primeiros enchidos de aves, nomeadamente o chouriço e o presunto de peru, o chouriço de frango, o peito de pato fumado e fatiado, que são hoje imagem de marca da casa. A par da qualidade, o sabor constitui a grande aposta de diferenciação (e o segredo) dos enchidos da Quinta dos Fumeiros, tendo por base principal o tempero tradicional minhoto com vinha de alhos e o fumeiro com lenha de azinho.
Sempre à procura da novidade, recentemente, criou um cachaço com queijo amanteigado de vaca da queijaria Senras, uma combinação de dois produtos ancestrais da região do Minho. Acabou por inspirar uma nova mistura de sabores que Deolinda Campelo considera “o casamento perfeito”: um cachaço fumado com queijo de cabra, em formato prato. “Fizemos uma parceria com uma pequena queijaria tradicional de Melgaço, cujos produtos têm elevada qualidade, e começámos a realizar experiências até alcançarmos o ponto ideal em sabor. O nosso cachaço de porco em conjunto com este queijo de cabra saiu muito bem”, conta a produtora que pretende desenvolver mais parcerias com outras pequenas empresas tradicionais para continuar a inovar.

Menção honrosa

Premiado: Inovfood
Produto: Bagas de sabugueiro desidratadas

As bagas de sabugueiro desidratadas que são benéficas para a saúde
Na região beirã entre os rios Távora e Varosa, que abrange vários concelhos, as pequenas bagas do sabugueiro (Sambucus nigra L.) tiveram, em tempos idos, elevado valor comercial. Já foram chamadas de “ouro negro” e eram o negócio de muitos produtores, que as comercializavam sobretudo para a indústria vinícola do Douro. A sua função era dar cor ao vinho. Bruno Cardoso, sócio-gerente da Inovfood, que fundou em 2004, nasceu e cresceu entre sabugueiros. Em Salzedas, no concelho de Tarouca, a sua família está desde há sete gerações ligada à cultura deste arbusto autóctone de flores brancas e bagas pretas. Agora, diz o produtor, “com as bagas desidratadas, quisemos criar um produto diferenciado que pode competir lado a lado com as bagas de goji e outras, sendo útil num contexto de alimentação saudável. Temos alguns estudos feitos pela Universidade de Aveiro, da sua influência positiva na diabetes, por exemplo”. A exploração está, entretanto, a ser convertida para produção biológica e as bagas são desidratadas ao sol, sendo, por isso, um produto 100 por cento natural.
A baga do sabugueiro tem um sabor semidoce e pela sua riqueza em nutrientes, entre eles flavonoides e tanino, é um antioxidante natural com diversas propriedades, incluindo anti-inflamatórias e cicatrizantes. Além do potencial da sua forma desidratada na área da nutrição e saúde, Bruno Cardoso continua a procurar novas ramificações para a utilização deste produto, como é o caso de compotas e licores, para criar valor acrescentado, ter um negócio sustentável para a própria região e trazer benefícios para as pessoas.


Premiado: Grande Forno
Produto: Pão do Sabugueiro

O pão artesanal de centeio que respeita as antigas tradições da aldeia do Sabugueiro
A pouco quilómetros de Seia, na pequena localidade de Vila Chã, faz-se um delicioso pão da serra da Estrela, baseado nas antigas tradições da ancestral aldeia do Sabugueiro. É um pão escuro, bastante enfarinhado, cujo segredo está sobretudo na matéria-prima (centeio da região), e nos métodos tradicionais com que é amassado (linha de montagem manual) e cozido (forno a lenha), o que o torna único. É assim que lavra a receita original, onde a padaria e pastelaria Grande Forno se inspirou, ainda no tempo da Branquinho & Branquinho, a antiga panificadora que, com uma nova gerência e imagem deu origem, há cerca de dois anos, à atual empresa. Ficaram as pessoas e o saber, para que a tradição não se perca. O Pão do Sabugueiro, refere Nuno Ramos, gerente, “é extremamente saboroso e rico no paladar, proporcionando uma enorme satisfação. Embora tradicional, está perfeitamente adaptado aos novos gostos e tendências do mercado e tem todo o potencial para se tornar uma referência ao nível nacional, tal como o Pão Alentejano, o Pão de Mafra ou o de Rio Maior. Merece, por isso, todo o destaque que lhe puder ser dado, porque apenas falta que seja conhecido e apreciado pelos consumidores”.
A Grande Forno recorre ao frio, em concreto à ultracongelação, como método de conservação, mas comercializa o produto em fresco localmente, “aguentando” cinco a seis dias em boas condições de consumo. Vai muito bem sozinho, simples ou acompanhando doces ou salgados, sendo ideal para torradas ao pequeno-almoço, para acompanhar uma refeição ou mesmo para fazer umas tostas ou um lanche, como base da refeição.
Além do Pão do Sabugueiro, a Grande Forno produz outros produtos regionais como a broa serrana, biscoitos da serra, de canela, de azeite e mel e, ainda, a queijada da Serra da Estrela, uma receita original à base de requeijão de ovelha, criada em parceria com a Escola Superior de Turismo e Hotelaria de Seia.